O Rio Grande
do Sul possuía duas grandes importâncias, especialmente no século XIX. Servir
como “curral” era uma delas, ou seja, abastecimento de carne sob a forma de
charque para o restante do país. Outra importância era a de “sentinela”, onde a
província do extremo-sul do Brasil deveria proteger as fronteiras brasileiras
contra os países do prata. A história do Rio Grande do Sul é marcada por esses
dois elementos, em uma convergência dos dois pontos temos as estâncias,
propriedades destinadas a criação de gado mas que também serviam para ocupar a
terra e protege-la.
Levando em
consideração esse passado histórico, essa formação do continente de São Pedro,
dentro de um contexto do século XIX, logicamente o Rio Grande do Sul possuía
uma grande importância, que de acordo com alguns líderes de época não estava
sendo respeitada. Durante o Primeiro Reinado e Regência, vários impostos
impediam a ampliação dos lucros dos fazendeiros sulistas em consequência do
encarecimento do preço final do charque gaúcho. Não bastando os entraves
tributários, a concorrência comercial dos produtos da região platina colocou a
economia pecuarista gaúcha em uma situação insustentável. Buscando acordo com o
governo central, os estancieiros gaúchos exigiam a tomada de medidas
governamentais que pelo menos garantissem o monopólio sulista sob o comércio do
charque.
Em 1835 nas
passagens de 19 para 20 de setembro aconteceu o primeiro combate na ponte da
Azenha no dia seguinte Porto Alegre abandonada, sem resistência, entregou-se
aos revolucionários. No resto da província apenas alguns focos de resistência
em Rio Pardo e São Gabriel, além de Rio Grande, mantinham os farroupilhas
ocupados. Iniciava assim a mais longa revolta brasileira. Tem que se destacar
que a Revolução Farroupilha não foi inicialmente separatista, um exemplo disso
é a carta enviada por Bento Gonçalves no dia 25 de setembro de 1835 para Diogo
Feijó explicando os motivos da revolta e solicitando um novo presidente de
província assim como novo comandante das armas, para os revoltosos estava tudo
resolvido assim.
O Império
contra-ataca, nomeia um novo presidente de província que vem para o Rio Grande
do Sul com um verdadeiro aparato de guerra. Os revoltosos encararam essa
atitude como uma declaração de guerra. Na sequencia Porto Alegre foi retomada
pelos imperiais. Os farrapos por diversas vezes tentaram ocupar novamente a
capital, mas sem sucesso, hoje ela tem no seu brasão os dizeres “leal e valorosa”
por ser um grande foco anti-farrapo ao longo do conflito.
Frente ao
melhor tratamento desejado pelos farrapos e negado pelo império, após a vitória
na batalha do Seival o General Antonio de Souza Netto proclamou a República
Rio-grandense. Com isso podemos falar a respeito da falência da Revolta farroupilha
para a Guerra dos Farrapos, afinal de contas agora não se tratava mais de uma luta
de revoltosos em busca de justiça, mas uma guerra de exército defensor
(republicano) contra exército agressor (imperial), não lutavam mais por
reconhecimento e atenção, mas pela defesa da independência e soberania de seu
país. Bento Gonçalves não estava presente na proclamação da República, sabendo
do acontecido parte do cerco à Porto Alegre em direção a posição do Gen. Netto,
no entanto na travessia do Jacuí, Bento Gonçalves foi feito prisioneiro após a
Batalha do Fanfa.
Até 1842
podemos falar em um avanço farroupilha. Durante esse período foi proclamada a
República Juliana, por Davi Canabarro e Giusepe Garibaldi. Existia a
necessidade de um porto e como Porto Alegre e Rio Grande estavam barrados por
tropas imperiais a única saída encontrada pelos farrapos foi a cidade de
Laguna, em Santa Catarina. Existia a necessidade de escoar o charque, afinal de
contas, seus recursos mantinham a luta. Nos anos de 1842 assumiu a presidência da
Província, Luis Alves de Lima e Silva, então Barão de Caxias (hoje Duque). A
partir desse momento, o Império, representado por Barão de Caxias, passou a
liquidar com a Revolução Farroupilha, através da diplomacia e de ações de
guerra.
Não se pode
ter a mesma atitude contra a Guerra do Farrapos, como a Cabanagem, por exemplo,
afinal de contas a revolução que aconteceu no Sul foi dirigida por uma elite
senhora de terras e escravos e que assim que chegar o fim do conflito, o
Império vai necessitar dessa elite para manter suas fronteiras e travar suas
guerras contra Oribe e Rosas, contra Aguirre e até mesmo no Paraguai, onde
alguns veteranos farrapos lutaram.
Nos anos de
1845, em primeiro de março, foi assinado a Paz de Ponche Verde, chamada “paz
honrosa” pelo fato de muitos desejos farrapos terem sido atendidos, como por
exemplo a anistia, incorporação do exército farroupilha ao imperial, devolução
de terras, taxação sobre o charque platino, redução dos impostos sobre o sal e
liberdade para os escravos que lutaram pela revolução. Claro que sobre a
questão dos escravos, antes do fim, tivemos a batalha de porongos, onde o corpo
de lanceiros negros foi cercado pelas tropas imperiais e dizimados, muito se
diz, com o conhecimento de Davi Canabarro.